segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Crise e o Estado Social

Há quem a pretexto da crise queira com alguma (muita) habilidade ligar as duas coisas. Esta ligação no entanto não faz qualquer sentido por várias razões. Primeiro efectivamente o estado social tem um problema de sustentabilidade mas não está de todo ligado à génese da crise em que vivemos antes pelo contrário.

Começando pelo problema de sustentabilidade este deve-se a vários factores mas no fundo podem ser resumidos a:

1) Felizmente temos uma esperança de vida maior
2) Por isso o rácio entre quem trabalha e não trabalha - só por isso mesmo ignorando outros factores - teria sempre tendência a aumentar logo criando uma pressão adicional no sistema
3) Enquanto sociedade achamos - e muitíssimo bem em minha opinião - que havia outras situações em que poderíamos desejar que os cidadãos fossem protegidos.
4) A máquina que controla o próprio sistema pela sua complexidade e má gestão consome cada vez mais recursos

Por outras palavras temos menores receitas (há cada vez menos jovens a entrar em idade activa em proporção de quem sai - mesmo ignorando o desemprego) e maiores despesas. Se queremos ter coragem de ver as coisas como são enquanto sociedade temos duas alternativas: Ou nos comportamos como egoístas e deixamos a cada um o cuidado de se proteger a si próprio, ou aceitamos que sejam feitas correcções por forma a tornar o sistema viável, e isto implica SEMPRE medidas desagradáveis como por exemplo aumentar a quotização, diminuir a % recebida na reforma, aumentar a idade da reforma e tornar a máquina mais eficaz.

Só assim o sistema é sustentável mas não nos admiremos dos sacrifícios. O estado somos nós. Dizer que vamos tornar a máquina mais eficaz é sinónimo de despedir pessoas para o resto creio que não serão necessárias mais explicações.

Em segundo lugar retomando o egoísmo de que vos falava há pouco a sede de querer acumular fortunas de forma rápida (à escala de cada um) sem olhar a meios porque o que conta mesmo é o objectivo final pouco importando o caminho que se utiliza para lá chegar, num eficaz e totalmente optimizado consumo dos recursos disponíveis, esse egoísmo é precisamente a ancora conceptual contraponto do estado social. O liberalismo, o acreditar na auto-regulação, na auto-defesa no direito do individuo esquecendo-se que há quem não se possa defender, que há direitos individuais que colidem com os interesses da sociedade e que sobretudo há externalidades e variáveis que não têm representação nessa pretensa optimização.

Por isso meus senhores querem arvorar honestidade e transparência? Então digam claramente quais dos modelos preferem. Eu por mim sempre fui social-democrata e por isso há muito que fiz a escolha. Do outro modelo já vi os resultados e sinceramente não creio que sejam melhores ...

2 comentários:

  1. Fernando,

    É muito complicado contentar cada um...
    É o próprio do Homem ser sempre insatisfeito.
    Que coincidência para quem gosta da música, acabei de ver uma emissão na France 2 sobre o Nemanja Radulovic. Que maravilha ouvir os sons do seu violino !
    Boa noite
    Verdinha

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  2. Acho que diz muito bem. Já ia sendo tempo de por cobro às narrativas miserabilistas e ás expecativas sebastianistas do fado lusitano. Mas nada! É mt mais cómodo manter o registo e chutar as culpas para o Sócrates de servbiço na altura.

    Cumprimentos.

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